Livro #173: Tasha e Tolstói

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Tasha e Tolstói

Título: Tasha e Tolstói
Autora: Kathryn Ormsbee
Editora: Seguinte
Páginas: 376
Ano: 2017
Sinopse: Natasha Zelenka é apaixonada por filmes antigos, livros clássicos e pelo escritor russo Liev Tolstói. Tanto que Famílias Infelizes, a websérie que a garota produz no YouTube com Jack, sua melhor amiga, é uma adaptação moderna de Anna Kariênina. Quando o canal viraliza da noite para o dia, a súbita fama rende milhares de seguidores e, para surpresa de todos, uma indicação à Tuba Dourada, o Oscar das webséries. Esse evento é a grande chance de Tash conhecer pessoalmente Thom, um youtuber de quem sempre foi a fim. Agora, só falta criar coragem para contar a ele que é uma assexual romântica ou seja, ela se interessa romanticamente por garotos, mas não sente atração sexual por eles. O que Tash mais gostaria de saber é- o que Tolstói faria?


Tasha é apaixonada por Leo. Ou simplesmente Liev Nikoláievitch Tolstói, para todos os outros. Desde a primeira frase, ela sentiu-se... apaixonada. Não tem outra palavra. Não há outra verdade. Leo é sua alma gêmea. Mesmo que esteja morto há uns cem anos.
Assim, junto com sua amiga Jack, Tasha começa um projeto ambicioso de fazer uma adaptação moderna, uma websérie, de Anne Kariênina, reduzindo os personagens aos mais importantes e sem nenhuma verba para fazer a websérie ou pagar os atores.

"A PRIMEIRA COISA QUE VOCÊ PRECISA SABER sobre mim é: eu, Tash Zelenka, estou apaixonada pelo conde Liev Nikoláievitch Tolstói. Esse é o nome oficial dele, mas, como somos próximos, gosto de chamá-lo de Leo. (...) Foi amor à primeira frase. Caso esteja curioso, aqui está ela: “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira”. Não é perfeito? Leo sabe exatamente o que dizer para conquistar uma garota."

Do nada (embora essa palavra pareça dizer que é sem esforço e não é) Famílias Infelizes torna-se famosa. Uma famosa os recomendou e... Eles tornam-se famosos. E então há muitas coisas acontecendo na vida de Tasha.
Fama, críticas positivas e negativas, o fato de sua irmã está se mudando, indo para faculdade, e se afastando (elas nunca foram próximas, mas... ainda sim) e decidido que é boa de mais para interpretar em Famílias Infelizes! Tem a questão do pai dos seus melhores amigos talvez estar com câncer de novo. Ainda tem a gravidez de risco da sua mãe - duas filhas não são suficientes?
E, claro, há o fato de que Tasha começa a gostar de Thom, um blogueiro que nunca viu, que apenas conversa por email e mensagens de celular, e... só há um problema (não é exatamente um problema): ela é assexual heterromântica.

"No começo do semestre de inglês do ano passado, meu professor, o sr. Fenton, disse que a motivação por trás de todaliteratura é sexo ou morte (...). Fico imaginando se é demais pedir para ser teletransportada para outra dimensão, onde isso não seja importante. Porque, presa nesta, penso que a minha única possibilidade é ser uma decepção. Uma garota que precisa ser consertada. Se há apenas essas duas forças propulsoras por trás de toda história, isso significa que a única força que me move é a morte?"

Assexual heterromântica. Não sei se alguém sabe o que significa, mas vou apenas supor que não. Vamos por partes.
Assexual: Não gosta de sexo, não sente todo esse alarde que fazem em relação a isso, e não sente atração sexual. Não olha para uma pessoa e pensa ela é sexy, fantasia sobre algo ou alguma coisa, é como se olhasse para qualquer outra. Não quer dizer que não possa achar alguém bonito, só que... é algo mais analítico, como se observasse um quadro e dissesse que gosta ou não do que vê. Sem querer comprá-lo
Heterromântica: é uma orientação romântica de alguém, relacionada a atração romântica e não sexual. É um pouco mais complicado para entender do que assexualidade. É, nesse caso, gostar de garotos por parte do romance, tirando toda a questão de tocá-lo e ficar doida ao vê-lo sem roupa e tudo mais.

"-Você diz isso agora…
-Quer saber? É, eu digo isso agora mesmo. Agora é tudo o que a gente tem. Então talvez você deva dizer “Sim”. Diga “Sim” agora e pode mudar de ideia daqui a dez minutos, dez horas, dez meses. Quando quiser."

Foi algo que alguém me disse uma vez, que eu não preciso dizer a ninguém sobre minha sexualidade, porque ela é minha. Talvez fulano goste de mim ou sicrano, mas se eu não gosto dele, ele saber minha sexualidade não vai mudar nada. Agora, se fosse recíproco, o fato se eu ser assexual iria mudar muita coisa - não que eu precise dizer, seja uma obrigação minha, eu posso não dizer nunca, mas talvez eu me sinta insegura ou simplesmente queira dizer, porque é uma parte minha e, se eu gosto de alguém (estou falando de mim), eu gostaria que esse alguém gostasse completamente de mim.
E é uma sensação aterrolhisante dizer isso a qualquer um - é uma saída do armário basicamente.Não é tão assustador quanto assumir que é gay, como mostra no livro, que você tem que lidar com "isso não é certo" e "você vai para o inferno", mas tem suas próprias dificuldades, porque "isso só é uma fase" (talvez, mas não significa que não é verdade), "vai passar" (igualmente verdade), "você não encontrou a pessoa certa" (discordo, porque sexualidade depende de mim e não de outra pessoa) ou simplesmente "não existe isso".
Eu tenho que dizer que, sim, existe isso.
Eu sou.
Assexual. Às vezes arromânticia (não sente atração romântica). Às vezes heterromântica. Ainda estou decidindo. E não tem problema eu me afirmar como um agora e depois mudar, porque... Ela é fluida. Sexualidade é fluída. E não tem problema estar errado, porque você pode mudar de ideia há qualquer momento.

"Não é engraçado como algo pode ser sério por tanto tempo até que de repente não seja mais? Um dia, vira uma piada. Você se pega rindo disso, sem se machucar ou cutucar nenhuma ferida no processo. É engraçado e não dói nadinha."

Livros com personagens assumidamente asseuxais são... raros. Existem alguns aqui ou ali que talvez sejam, que no canon são considerados. (Agatha de Carry on, Neil da série All for the game, não lembro de mais nenhum agora.) E eu gostei da Tasha, me reconheci na personagem, entendi todos os conflitos dela - talvez por eu ser também uma, talvez nem todos sintam o mesmo, acham um conceito abstrato. Talvez.
Há outras coisas no livro, é claro. Histórias de fundos e acontecimentos que seriam spoiler e só lendo para entender.

"Esse é o ponto: somos melhores amigos, mas nenhum de nós sabe o que nenhum de nós quer. Somos um grande ensopado de sentimentos reprimidos"

Tasha e Tolstói não é aquela história impressionante que você se pergunta como pode não ler antes, é uma história simples de uma garota que não quer sexo, não sente atração física, mas que mesmo assim gosta de garotos, que não está confusa, que não é uma fase, que não é porque "ainda não encontrou o cara certo"... (Por experiência própria, ouve-se muito isso.). É uma história simples e bem escrita de uma garota assexual heterromântica, com profundidade nos personagens mesmo que seja um livro tão pequeno (pequeno, pequeno não, mas não é uma série também).

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