Livro #197: Uma coisa absolutamente fantástica
Em seu aguardado livro de estreia, Hank Green traz a história original e envolvente de uma jovem que se torna uma celebridade sem querer — mas logo se vê no centro de um mistério muito maior do que poderia imaginar. Enquanto volta para casa depois de trabalhar até de madrugada, a jovem April May esbarra numa escultura gigante. Impressionada com sua aparência — uma espécie de robô de três metros de altura —, April chama seu amigo Andy para gravar um vídeo sobre a aparição e postar no YouTube. No dia seguinte, a garota acorda e descobre que há esculturas idênticas em dezenas de cidades pelo mundo, sem que ninguém saiba como foram parar lá. Por ter sido o primeiro registro, o vídeo de April viraliza e ela se vê sob os holofotes da mídia mundial. Agora, April terá de lidar com os impactos da fama em seus relacionamentos, em sua segurança, e em sua própria identidade. Tudo isso enquanto tenta descobrir o que são essas esculturas — e o que querem de nós. Divertida e envolvente, essa história trata de temas muito relevantes nos dias atuais: como lidamos com o medo e o desconhecido e, principalmente, como as redes sociais estão mudando conceitos como fama, retórica e radicalização. (Skoob)
Uma coisa absolutamente fantástica tem um título irônico; ao menos para mim, por falta de uma palavra melhor, porque enquanto lia esse termo mudou de significado, parou de significar algo bom. É uma coisa absolutamente fantástica? Sim! E ainda é, mas não é algo realmente bom, algo que você possa separar nesse dualismo bom e mau, e estou falando de diferentes assuntos: Carls, internet, fama... quem é Carl? É o ponto principal da história.
A primeira pessoa a vê-lo(s), a parar e prestar atenção, foi April May, que encontrou um dos Carl no meio de uma rua de madrugada. Ela iria passar direto sem ligar, ela passou, mas então voltou, olhou-o e ligou para seu amigo Andy, para fazer um vídeo sobre ele, porque Carl (como ela nomeou) era um robô gigante estilo Transformers e aquilo era absolutamente fantástico, e como alguém que admira/trabalha com arte, ela tinha que divulgar aquela obra belíssima. O que April, Andy ou ninguém sabia, era que aquele robô apareceu em diferentes cidades no mundo todo e ninguém pode dizer de onde eles vieram.
Por ser a primeira pessoa a gravar um vídeo, a postá-lo, April vira uma celebridade do dia para noite, a porta-voz dos Carls, chamada em todo canto para ser ouvida e por que não ir? Ela não se importa com tudo isso de fama e famosos e pode muito bem ganhar em cima enquanto a querem. Até que April May se importa demais com tudo isso e sua vida já não é mais a mesma. E o quê e de onde os Carls vieram mesmo?
"Quero que a ideia de April May contrabalance a ideia dos Carls. Se eles são poderosos, vou ser fraca. Se são assustadores, vou ser fofa. Se são extraterrestres, vou ser humana."
Eu quero matar Hank Green. Tipo assim. Só de leve. Só fazê-lo sofrer um pouco. Como ele pode finalizar o livro desse jeito? Eu quero mais! Eu quero mais, eu quero uma continuação, eu quero saber o que vem depois e nem gostei do livro tanto assim. Vai entender. Para mim, ficou faltando um resolução dos problemas e dos mistérios; eu entendi a história que ele quis passar sobre internet e fama e como elas mudam as pessoas sem perceber, mas comigo não cola isso. Se você me apresenta um problema, eu quero a solução, não adianta dizer que não importa, porque se não importasse não estaria lá.
Outra coisa que não gostei foi... bem, April. Antes de mais nada, saiba disso, esteja ciente disso: April May é uma cretina. Eu gostei da história, mas não da protagonista. Foi estranho. Foi a primeira vez que algo assim aconteceu. Eu já encontrei personagens com ações duvidosas que gostei, que penso até o que isso significa de mim, mas... não consegui sentir nenhuma empatia por April. Ela cavou o próprio buraco ciente disso. O estranho é que eu gostei da narração dela, mas não dela como protagonista, agindo, porque, meu Deus, que cretina. Aí, quando eu estava quase gostando dela, quase o finalzinho do livro, foi como se nada tivesse mudado e ela fosse novamente a cretina de sempre.
Mas eu gostei da história. Eu já disse o quanto isso é novo para mim e foi uma coisa absolutamente fantástica?
"(...) só dá para fingir até certo ponto antes de se tornar quem se está fingindo ser."
Eu adoro livros de ficção científica e esse é um deles, que engloba outros gêneros, como mistérios, um pouco de suspense, "o que vai acontecer depois?", com uma pitada de romance no meio, além de te fazer refletir sobre esse tema de mídias e popularidade, que dizemos que não nos importamos, mas vivemos com medo de sermos julgados. Só estou citando por alto esses pontos, porque não quero entregar spoiler, e a construção de tudo é ao decorrer das páginas, é algo que você vai assimilando aos poucos sem ser dito, o que com certeza conta muito, porque nem todos escritores conseguem seguir aquela regra do "mostrar e não dizer" que os perseguem.
Um ponto a mais do autor foi quanto ao fato de April não ser hétero, porque eu não sabia disso ao ler a sinopse e até me pegou de surpresa, porque normalmente está lá. E eu amei isso não estar. Porque a orientação sexual de April não importa para a história, não é o ponto central do livro, não faria diferença significativa se ela fosse hétero ou não, essa é apenas mais uma característica dela. E precisamos de personagens LGBTQIA+ (eu gosto do alfabeto completo) que apenas são diversos em suas sexualidades sem precisar abordar isso, tê-los apresentados como normal, porque isso é, eles são; ter personagens assim é tão importante quanto ter personagens que descobrem e aceitam quem são.
"Somos todos indivíduos, mas o fato de estarmos junto é muito maior. Se isso não for protegido e acalentado, nosso futuro é tenebroso."
Enfim, não leia pensando que está lendo John Green, quer você goste dele ou não, porque são histórias diferentes, com focos diferentes. Eu gostei de Uma coisa absolutamente fantástica e definitivamente leria a continuação, embora eu vá querer bater na April um pouquinho se ela continuar desse jeito. Ou pior. Deus nos livre dela estar pior.
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