Livro #250: Ensaio sobre a cegueira
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas. O Ensaio Sobre a Cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".
José Saramago | Ensaio sobre a cegueira | Companhia das Letras | 2017 | 312 p.
Eu sabia que essa história seria pesada e difícil de ler, só não esperava que fosse ser tanto. Ela é pesada tanto por motivos pessoais, como por algo mais genérico e literário.
Está confuso, eu sei.
"Numa epidemia não há culpados, todos são vítimas."
Por motivos pessoais, tem o fato de estarmos vivenciandos uma pandemia e o livro ser sobre uma pandemia. Além de que, é sobre estar cego e os primeiros capítulos mostrava toda a angústia de não estar enxergando e isso já aconteceu comigo, eu já passei por uma situação em que não enxerguei nada.
Eu sabia que seria desconfortável, mas, mesmo assim, decidi ler. Porque eu queria ler esse livro. Porque eu queria testar os meus limites. Porque eu queria superar tal desconforto. É algo que não recomendo a ninguém apesar de soar hipócrita, porque esse realmente não é um gatilho meu, estar mais para o que chamamos de squish (gíria americana).
"Hoje é hoje, amanhã será amanhã, é hoje que tenho a responsabilidade, não amanhã, se estiver cega (...). A responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam."
Por motivos gerais, vem a questão da trama literária e de como o autor escreveu. Você ver 300 páginas e pensa "300 páginas é mediano", mas não é. É uma leitura difícil porque está em português de portugal (ao menos a edição brasileira que li) e porque o autor não faz parágrafo. Imagine ler um livro que tem a folha com apenas um parágrafo do começo ao fim... Você pode muito bem dizer dizer que é umas 600 páginas e não 300.
E, cara, é um livro pesado porque mostra o que os seres humanos são, realmente são; essa segunda pele de egoísmo que temos, mas que está encoberta, e que apenas vemos quando não conseguimos ver. E é tão cheio de metáfora e crueldade e que você termina com tantas perguntas.
"Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem."
Super recomendo esse livro para quem gosta de leituras densas, mas vá com calma e no seu ritmo e leia apenas se estiver confortável com tudo que for aparecendo.
Livro participante do #DLL20, na categoria "autor português".
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