O Expresso Jubileu
Resenha do livro.Eu estava em um daqueles dias em que você sente que a vida... gosta de você.
A proximidade não leva a familiaridade.
Achei que fosse me dizer que meus pais tinham sido assassinados. Ele falava com esse tom. Tinha visto fotos do Hotel dos Elfos – com torres pontiagudas de bengalas de doce que poderiam facilmente empalar uma pessoa. E se alguém um dia fosse ser morto por um Hotel dos Elfos, esse alguém seriam meus pais.
Saber que algo é lindo e se importar com aquilo são duas coisas muito diferentes, e eu não me importava.
-Às vezes é preciso fazer coisas sobre as quais não se tem certeza.
Era difícil desligar o alarme de “perigo, estranho” que soava na minha cabeça... muito embora fosse o estranho que estivesse arriscando. Eu havia demonstrado todos os sinais de loucura naquela noite. Eu não teria me levado para casa.
-Os garotos realmente acreditam que, se são os únicos homens do local, as garotas, de repente, vão se jogar aos pés deles?
-Não é isso que acontece? Mas qual é o problema com as lideres de torcida? Não estou dizendo que só gosto de líderes de torcida. Só não tenho preconceito contra elas.
-Não é preconceito.
-Não é? O que é, então?
-É a ideia de lideres de torcida. Garotas fora do campo, usando minissaias, dizendo aos garotos como eles são bons. Escolhidas pela aparência.
-Não sei. Julgar grupos de pessoas que você não conhece, presumir, falar sobre a aparência delas... parece preconceito, mas...
-Eu não sou preconceituosa!
E assim fui apresentada à mãe de Stuart (“Pode me chamar de Debbie”). Eu a conhecia por longos vinte segundos, e ela já tinha visto minha calcinha e me oferecia as roupas do filho.
Não é certo querer que as pessoas sintam como se não compreendessem algo bem óbvio, ainda que não compreendam.
Ter dezesseis anos significa precisar ser um genial editor de conversas.
Debbie precisou se levantar e me servir uma fatia grossa de bolo antes de responder. E digo grossa de verdade. Tipo o sétimo livro do Harry Potter. Eu conseguiria derrubar um assaltante com aquela fatia de bolo.
A expressão diz que: o melhor amigo de um garoto é a mãe. Não é: o melhor cafetão de um garoto é a mãe dele. É assim por um motivo.
-Vamos cuidar de você – disse Rachel, pegando minha mão e usando aquela adorável voz do tipo “deixa eu lhe contar um segredo” que só as crianças podem usar. Mas, à luz dos comentários recentes da mãe dela, parecia um pouco ameaçador.
-(...) Portanto, você e Stuart fiquem aqui e façam alguma coisa. Tomem um bom chocolate quente, comam alguma coisa, fiquem aninhados debaixo de um cobertor...
Sob qualquer outras circunstâncias, eu teria presumido que a ultima frase significava “Fiquem aninhados debaixo de dois cobertores separados, a muitos metros de distancia, possivelmente com um lobo preso a uma corrente frouxa entre vocês”, porque é isso que os pais sempre querem dizer. Debbie me passou a sensação de não se importar com a situação do modo como a quiséssemos levar. Se quiséssemos nos sentar no sofá e compartilhar um coberto para conservar a temperatura corporal, ela não se oporia. Na verdade, era possível que diminuísse a temperatura do aquecedor e escondesse todos os cobertores menos um.
-Imbecis nunca ficam surpresos.
Eu ainda estava debruçada sobre Stuart, basicamente o prendendo ao chão. De novo, a reação normal de um pai seria dizer algo como: “É melhor saírem neste momento ou eu vou virar bicho!” mas Debbie não era uma mãe normal, então ouvimos uma risadinha, e ela virou as costas.
-Estava brincando com Stuart?
A pergunta tinha muitos sentidos. Eu era uma mulher muito, muito suja, e até uma menina de cinco anos sabia.
-Sim – respondi, tentando manter alguma dignidade. – Estávamos brincando de Armadilha.
-Vocês dois tiveram uma tarde... boa?
-Foi legal – respondi, inexpressiva. – Brincamos de Armadilha.
-É assim que se chama hoje em dia?
Havia a Jubileu dos “pais que acabaram de ser presos”, a Jubileu “presa numa cidade estranha”, a Jubileu “maluca que não cala a boca”, a Jubileu “meio desconfiada do cara estranho tentando me ajudar”, a Jubileu do termino e a extremamente popular Jubileu que “agarra você de repente”.
Fugir é bem patético, mas ser pega é bem pior.
-Só uma coisa. Talvez... não conte a sua mãe sobre isso. Acho que ela fica criando ideias.
-O que? Seus pais não torcem e encaram quando você está beijando alguém? Isso é esquisito de onde você vem? Acho que eles não devem ver muita coisa, na verdade. Da cadeia, quero dizer.
-Cala a boca, Weintraub. Se eu derrubar você na neve, essas crianças vão formar um bando e devorar você.
O Milagre da Torcida de Natal
-E por que você não vai para minha casa no Natal? – perguntou JP.-A comida é uma porcaria – falei.
-Racista!
-Não é racismo.
-Você acabou de dizer que a comida coreana é uma porcaria.
-Não falou, não – afirmou Duke. – Ele disse que a comida coreana da sua mãe é uma porcaria.
-Você é um tapado – falou JP, que é o que ele diz quando não tem uma resposta. E, em termos de resposta de quem não tem resposta, até que é muito boa.
-Eu sou uma menina. Não é gay eu me sentir atraída por homens. Agora, se eu dissesse que você tem um corpo gostoso, isso seria gay, porque você tem o físico de uma dama.
-Ai, toma.
-Embora JP seja um bizarro modelo de masculinidade comparado a você.
-Keun está no trabalho – falei. – Ele recebe em dobro na véspera de Natal.
-Ah, é – disse JP. – Esqueci que as Waffle Houses são como as pernas da Lindsay Lohan: sempre abertas.
-E depois você vai me dizer que o Sol é uma massa de gás incandescente ou que JP tem bolas pequenas.
-Não começa.
-Não começa o que? A olhar dentro da sua calça com lente de aumento especial à procura das suas bolas minúsculas.
-E por que a dona dos menores peitos do mundo acha que pode denegrir as partes intimas de outra pessoa? – perguntou JP para a Duke.
-Cavalheiros, façam uma viagem segura e rápida. Mas, se morrerem esta noite, morram cientes de que sacrificaram as vidas pela mais nobre das causas do homem. A busca por lideres de torcida.
-Você parece um lenhador com fetiche por bebês adultos – comentei.
-Cala a boca, seu tapado. É uma roupa sexy de esqui. Diz: “Estou vindo das montanhas após um longo dia salvando vidas com a patrulha de esquis.”
-Na verdade, diz: “Só porque eu não fui a primeira astronauta mulher, não quer dizer que não posso usar a roupa dela” – falou Duke.
-O tempo todo eu estava só pensando “Cara, vou morrer numa roupa de esqui azul bebê.” Minha mãe vai ter que identificar meu corpo e vai passar o resto da vida pensando que, nos momentos íntimos, o filho gostava de se vestir como uma estrela pornô dos anos 1970 com hipotermia.
-Tudo bem, não é mais sobre nós nem sobre as lideres de torcida. A questão é proteger Keun dos gêmeos Reston.
-Se ficarem isolados pela neve na Waffle House durante alguns dias e a comida escassa, vocês sabem o que vai acontecer – falou JP.
-Terão que recorrer ao canibalismo. E Keun será o primeiro a morrer.
-Eu amo você, Carla. Você sabe disso, não sabe? Todas as manhas, quando acordo, a primeira coisa em que penso é que amo o carro da mãe de Tobin. Sei que é estranho, querida, mas é verdade. Eu amo você. E sei que consegue.
-Você sabe mesmo falar com um carro.
-Momentos de desespero demandam medidas desesperadas.
-Você sabe, que você não é, tipo, uma ameaça. Tipo, a maioria das garotas, se tem um namorado, ano quer ele andando o tempo todo com outra garota. E Brittany não entendia que você, tipo, não é uma garota de verdade.
-Se com isso quer dizer que eu não gosto de revistas de celebridades, prefiro comida à anorexia, me recuso a assistir aos programas de TV sobre modelos e odeio a cor de rosa, então, sim. Estou orgulhosa de não ser uma garota de verdade.
-Ah, não é sua culpa. É da Carla. Eu sabia que não deveria tê-la amado. É como todos os outros, Tobin: assim que confesso meu amor, me abandonam.
-Nunca abandonei você.
-É, bem, (a) eu nunca confessei meu a você e (b) de acordo com você eu não sou nem fêmea.
-O mundo deve conter milhões de pompons carregados por milhões de lideres de torcida! E, se é errado querer que todas essas milhões de lideres de torcida esfreguem seus milhões de pompons no meu peito nu, bem, então não quero estar certo, Duke. Não quero estar certo.
-Você é um palhaço. E um gênio.
-Espero que você não fique magoada, mas, se eu tiver um sonho sexual com você, terei que localizar meu subconsciente, removê-lo do corpo espancá-lo até a morte com um pedaço de pai.
-Isso não me ofende nem um pouco. Se não o fizesse, eu teria que fazer por você.
Uma vez que você pensa u pensamento, é extremamente difícil “despensar”. E eu tinha pensado o pensamento.
-Isso é meio gay – comentou Keun.
-EU SOU UMA GAROTA.
-É, eu sei, mas Tobin também.
O Santo Padroeiro dos Porcos
Ser eu era uma droga. Ser eu naquela noite supostamente estonteante, com a neve supostamente estonteante se acumulando em montes de um metro e meio do lado de fora da janela do meu quarto era duplamente uma droga. Acrescentando a isso o fato de ser Natal, minha pontuação subia para triplamente uma droga.-Têm oito anos, oito! E querem que eu diga elas como se dá um beijo de língua. Precisam seriamente ser desprogramadas.
-Por acaso a Starbucks vai abrir?
-Cara. Nem a chuva, nem a neve, nem geada nem granizo fechará as portas da poderás Starbucks.
-Cara, esse é o lema dos Correios, não da Starbucks.
-Mas, ao contrario dos Correios, a Starbucks fala serio.
-Todos temos defeitos, querida. Cada um de nós. E, acredite em mim, todos cometemos erros.
-Você só precisa dar uma boa olhada em si mesma, mudar o que precisa ser mudado e seguir em frente, querida.
-O Natal nunca termina, a não ser que você queira. O Natal é um estado de espírito.
-Às vezes, quando esquecemos de fazer coisas para os outros, é porque estamos envolvidos demais com os nossos problemas.
-É O Show de Addie de novo. Em todos os canais, todas as emissoras.
-Não é o que o universo nos dá que importa. É o que nós damos ao universo.
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