Livro #84: Carry on

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Simon Snow é um bruxo que estuda numa escola de magia na Inglaterra. Profecias dizem que ele é o Escolhido. Você pode até estar pensando que já conhece uma história parecida. O que você não sabe é que Simon Snow é o pior Escolhido que alguém já escolheu. Poderosíssimo, mas desastroso a ponto de não conseguir controlar sequer sua própria varinha, Simon está tendo um ano difícil na Escola de Magia de Watford. Seu mentor o evita, sua namorada termina com ele e uma entidade sinistra ronda por aí usando seu rosto. Para piorar, seu antagonista e colega de quarto, Baz, está desaparecido, provavelmente maquinando algum plano insano a fim de derrotá-lo. Carry On é uma história de fantasma, de amor e de mistério. Tem todos os beijos e diálogos que se pode esperar de uma história de Rainbow Rowell, mas com muito, muito mais monstros. (Skoob)
ROWELL, Rainbow. Carry on. Novo Século, 2016. 448 p.

Amar um livro antes mesmo dele existir é complicado e um sofrimento. Carry on era uma fanfic do livro Fangirl, que amei mais do que a história principal, mas não precisa lê-lo para entender esse, mal também não faz, é apenas mais SnowBaz. Eu amo esse livro e já o li muitas e muitas vezes, a cada vez percebo algum detalhe que não me dei conta anteriormente e me apaixono ainda mais.

"- O que você é, Simon Snow, é uma tragédia do caralho. Você literalmente não tinha como ser uma bagunça pior."

Simon Snow é o Escolhido. Com uma aparência normal e uma personalidade atacada, mas ainda sim o Escolhido. Talvez não o melhor para o cargo, contudo o único poderoso para ocupá-lo, embora não saiba como controlar seu poder. Ele foi retirado de um orfanato aos 11 anos pelo Mago e levado para Watford, a fim de aprender a controlar seu poder. Sete anos depois, no ultimo ano escolar, Simon não está mais perto disso do que no começo.

Profecias dizem que ele é o Maior Mago, aquele que chegará no momento de mais perigo para salvar o Mundo Bruxo. E todos os bruxos sentiram quando Simon Snow foi encontrado pelo Mago depois de um rompante, não restando duvidas a ninguém de que ele é a pessoa certa para essa posição. O Escolhido que enfrentará o Insípidum. O Insípidum que tem o mesmo rosto do Escolhido, não que mais alguém saiba desse fato além dele e de sua melhor amiga. E a profecia não ajuda Simon Snow em nada também.

“E surgirá alguém para acabar conosco. 
E alguém que o arruinará.
Que o maior poder entre os poderes reine,
Que ele salve a todos nós.”

Tudo que Simon mais quer é ficar em Watford até que precise enfrentar o inimigo do Mundo Bruxo, o Insípidum. Até porque seu inimigo realmente é seu colega de quarto, seu antagonista Tyrannus Basilton Grimm-Pitch. Ou Baz.

Baz é um bruxo poderoso de duas famílias poderosas, Grimm e Pitchi, e vampiro nas horas vagas, que está sempre tentando matar Simon. Quando Baz não retorna para Watford, Simon está crente que esse é mais um dos seus planos diabólicos que visam seu assassinato. Contudo o tempo passa e nada acontece. Simon parece ser o único preocupado com isso, ninguém lhe diz nada, ninguém se importa com o que aconteceu com Baz. Ninguém nem parecer lembrar que Baz existiu. Até que ele retorna. E eu tive um ataque de fangirl quando Baz apareceu.

Enfim, Baz retorna e Simon relembra-se de algo que aconteceu quando ele estava fora, contando-o sobre a Visita que ele perdeu. A cada 20 anos, o Véu entre os mundos fica frágil e os mortos que tem assuntos pendentes podem voltar. E uma pessoa voltou para Baz. Sua mãe. Numa trégua temporária, os dois fazem um juramento de não agressão enquanto tentam descobrir quem realmente é o culpado pela morte de Natasha Pitchi, assassinada num ataque de vampiros que também Transformou seu filho no sanguessuga que ele é atualmente.

"Snow diz que sou obcecado por fogo. Eu argumentaria que é um efeito colateral inevitável de ser inflamável. (...) A piada cruel disso tudo é que eu venho de uma longa linhagem de bruxos do fogo. (...) Não... A piada cruel disso tudo é que Simon Snow cheira a fumaça."

O livro é divido em quatro partes ou, como Carry on apresenta, quatro livros. O primeiro é basicamente a introdução do leitor ao mundo criado por Rowell, com Simon desesperado para encontrar Baz, muito mais desesperado do que deveria para saber onde está seu inimigo. Há muita semelhança com HP? Há, mas são nelas que também estão as diferenças. É aquela velha história de que "nada se cria do nada", além de que Carry on foi escrito para ser uma crítica à Harry Potter, pegando todos aquelas coisinhas que irritam na série e que te faz pensar "e se..." e fazendo sua própria trama.

O principal "e se" é o casal dourado. Eu não fiquei me perguntando o que era que o Baz tinha para o Simon persegui-lo tanto, mas posso imaginar outras pessoas fazendo essa pergunta. Talvez eu esteja procurando onde não tem nada ou simplesmente estou vendo mais claramente, já que sei o que acontece (li Fangirl, comprei o Carry on por isso), mas para mim foi óbvio que Simon é apaixonado pelo Baz. Isso deveria ser considerado spoiler? Ele fala/pensa mais nele do na própria namorada ou de si mesmo! Quando seu inimigo começa a falar de seus olhos... aí tem coisa.

"Sinto-me como quinze anos de novo, como se fosse ceder caso ele aproxime demais – e beijá-lo ou mordê-lo. A única razão para eu conseguir suportar aquele ano foi eu não ser capaz de decidir qual dessas opções iria finalmente por um fim ao meu sofrimento."

O que eu gostei é que a autora explica a relação do Simon com Baz. Todos os maus entendidos, não tão maus entendidos assim. Ela não joga os sentimentos do nada. Acompanhamos a confusão de Simon e nos apaixonamos por Baz. Não tem como não se apaixonar por Baz, que é um sanguessuga que só pensa no seu companheiro de quarto, e não apenas violentamente. Baz é apaixonado por Snow. E eu pelos dois juntos.

Baz é a piada cruel que você ama contar e rir para você mesmo. O humor negro em pessoa. É aquele vilão que você se apaixona, apega-se e torce para que tenha um final feliz. E tem uma voz única, cada personagem tem uma voz única. Não é preciso nem ler quem narra para saber quem narra. Simon passa tudo que um herói tem que ser: a coragem, o medo, o altruísmo e o desejo de ser normal, de poder viver além da profecia e de amar... sem ser um modelo perfeito.

A surpresa que eu tanto esperava, saber quem iria aceitar declarar o que fosse primeiro, me deixou louca. Outro ataque de fangirl, porque foram muito. Estava parecendo uma daquelas mocinhas recatadas de antigamente abanando-se. Estava tão, mas tão feliz! Deu para sentir, na cena, toda a dor e confusão nos personagens. E todo o amor.

"Ele não é um monstro. É apenas um vilão.
Ele não é um vilão. É apenas um garoto.
Estou beijando um garoto.
Estou beijando Baz.
Ele é tão frio, e o mundo é tão quente."

Há também, é claro, os personagens secundários que eu amo, como a Penélope. A amizade criada entre a ela e o Simon é invejável, e Penny é uma bruxa inteligente, esperta e poderosa. Simon teria morrido há tempo sem ela ao seu lado, como sua corajosa parceira. Mas também existe personagens que eu não soube como classificar, que é complexo demais para ficar entre gosto e não gosto, como a Agatha, ex do Simon. Eu vi tantas resenhas negativas sobre ela, que me surpreendi ao gostar de Agatha enquanto lia e depois fiquei irritada, porque ao mesmo tempo que eu concordo com o desejo dela de ser mais do que isso, de não se restringir apenas a magia, apenas a namorada do Escolhido, ela acabou se focando demais em si e esqueceu-se que Simon Snow não é simplesmente o Escolhido, mas seu amigo.

Sobre a ortografia, sinto que a editora teve bastante trabalho para traduzir os feitiços para o português e mantê-los coerentes com a historia. Em Carry On, além de ter algumas palavras não usuais no dia a dia que tive que pesquisar (ao menos agora sei o que significa asseado), os feitiços é a coisa mais surpreendente. Ninguém esperava por essa, tenho certeza. Palavras têm poder, sempre ouvimos e lemos isso em qualquer lugar, e em Carry On as coisas tomam um significado mais profundo. A magia acumula-se ao redor de expressões que tem peso, que são ditas e reditas pelas pessoas. É quase que nem “eu acredito em fadas” e Sininho fica boa.

"Quem não se escondeu, não se esconde mais! Está na hora do show! Scooby-Doo, cadê você?"

Eu li o livro pela primeira por causa do romance. Foi o primeiro livro com um casal homossexual que eu li, eu tentei outros, mas nenhum me prendeu como esse. Rowell tem uma escrita maravilhosa, embora eu só tenha lido Fangirl e Anexos (não gosto desse), com personagens reais e frases perfeitas, muito, muito perfeitas, bem como descrições apaixonantes. Teve cenas que releio umas quatro vezes toda vez que leio o livro.

Só não gostei do epilogo, porque preferiria imaginar por mim mesma o que aconteceria depois. A ultima frase de Penny foi perfeita: "Tudo começa a fazer sentido". Há pouco tempo eu diria "espero que não, espero que tenha uma continuação", mas eu tive a melhor notícia do ano passado quando li que vai haver, sim, continuação. E esse ano! Era para ser lançando em 2020, mas adiantaram e eu espero que seja o livro todo que nem o capítulo 61, idolatrado pelos fãs. Eu sou um desses fãs. O melhor de tudo é que o título vai ser totalmente baseado na música Carry on my wayward son de Kansas, chamando-se Wayward Son em complemento a esse. Mal posso esperar.

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