Livro #135: Todos, nenhum - simplesmente humano
Todos, nenhum - simplesmente humano
Título: Todos, nenhum - simplesmente humanoAutor: Jeff Garvin
Editora: Plataforma21
Páginas: 400
Ano: 2017
Sinopse: Riley Cavanaugh é um ser humano com muitas características: perspicaz, valente, rebelde e… gênero fluido. Em alguns dias, se identifica mais como um menino, em outros, mais como uma menina. Em outros, ainda, como um pouco dos dois. Mas o fato é que quase ninguém sabe disso. Depois de sofrer bullying e viver experiências frustrantes em uma escola católica, Riley tem a oportunidade de recomeçar em um novo colégio. Assim, para evitar olhares curiosos na nova escola, Riley tenta se vestir da forma mais andrógina possível. Porém, logo de cara recebe o rótulo de aquilo. Quando está prestes a explodir de angústia, decide criar um blog. Dessa forma, Riley dá vazão a tudo que tem reprimido sob o pseudônimo Alix. Numa narrativa em que o isolamento é palpável a cada cena, Jeff Garvin traça um poderoso retrato da juventude contemporânea. Somos convidados a viver a trajetória de Riley e entender o quê, afinal, significa ser humano.
"NOVO POST: UM OU OUTRO
10 de outubro, 6h55
A primeira coisa que você vai querer saber sobre mim é: sou menino ou menina?"
Riley é um garoto. Ou uma garota. Às vezes um, às vezes outro - depende do dia. Riley é do gênero fluido e sente sua identidade de gênero igual a uma bússola, em que norte é feminino e sul, masculino (ou será que é o contrário?) e raramente ela está completamente apontando para um lado.
Seus pais ainda não sabem e nem Riley conhece um jeito de contar. Sua terapeuta recomenda começar devagar e sugere que Riley crie um blog, falando sobre isso anonimamente, mas sempre que tenta falta-lhe palavras.
Quando decide recomeçar numa escola pública, Riley decide se vestir do jeito mais andrógino, neutro, possível, para que ninguém possa rotulá-lo. Embora nada impeça que usem "aquilo" para se refirir a Riley, como se ele fosse... qualquer coisa, menos um ser humano
"-É menina ou menino?
-Não - fala outra garota. - Deve ser...
-Sim, mas olhar só o que aquilo está vestido.
Aquilo. Ela me chamou de aquilo."
Ele é uma garota? Ela é um menino? Isso importa? Riley é uma pessoa e é sobre isso que fala em seu primeiro post como Alix no blogr (parece o tumblr), desabafando seus sentimentos e falando cada vez mais sobre se sentir errado e às vezes certo no seu corpo, sobre como tenta lidar com isso com alguns gestos simples que passem despercebidos pelos outros, como cruzar os pés debaixo da cadeira quando sente-se feminino ou andar "largado" ao ver que sua bússola começa a ir para o lado masculino.
"-Eu não... Eu queria muitos ser normal aqui.
-Bom. Talvez "ser normal" não seja tão importante assim."
Sinto que tenho que explicar porque escolhi esse livro na categoria "livro fora da zona de conforto" e não foi por tratar identidade de gênero e orientação sexual, mas por outro tema que infelizmente sempre vem acompanhado desses (sem spoiler).
O que eu mais gostei no livro foi o fato do autor não ter revelado o sexo biológico de Riley, porque não importa. Não importa como nasceu, mas como Riley se sente a cada momento. Menina? Menino? Qual pronome de tratamento Riley quer? Isso importa. Respeitar como a pessoa quer ser tratada é o principal ponto de ser humano.
O que eu menos gostei foi como o autor usou o fato de cruzar os pés como um ato feminino e andar largado como masculino, embora eu saiba que identidade de gênero tem relação direta com o papel de gênero que a sociedade idealiza - mas mesmo assim eu me senti desconfortável quanto a isso, porque eu sou uma garota e ando largada e cruzo as pernas e coloco o tornozelo em cima do joelho e sou uma garota.
"(...) existe outra voz na minha cabeça. (...) Ou talvez seja a minha. A voz me diz que todas essas coisas não são motivos, só desculpas. E talvez tudo isso não seja mais sobre mim"
É difícil fazer essa diferenciação de masculino e feminino sem apelar para os papéis de gênero, eu sei, e eu não posso opinar sobre isso do modo que eu desejo, porque sou cisgênero e não posso ter um papel ativo nessa questão, e nem entendo todos esses termos tão bem quanto gostaria... Me sinto desconfortável quanto a isso também. Essa falta de conhecimento é desconfortável.
"Então, querida anônima, por favor, não se jogue no trilho. Porque aqui e agora é a pior parte. Se você conseguir passar por ela, tudo vai melhorar."
Todos, nenhum, simplesmente humano, tem o título como tema, falando sobre todos, nenhum, simplesmente de humanos. Engraçado, simples - e às vezes complexos - de tamanho médio, traz assuntos sérios que não deveria ser considerados sérios (quase todos, nem todos, alguns). É um livro que te faz pensar sobre o assunto e eu recomendo, porque pensar é o primeiro țpasso para aceitar.
Citações do livro.
Obs: Livro participante do Desafio Literário Livreando, na categoria "livro fora da zona de conforto"! Para saber mais clique na imagem.
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