Livro #191: O fim do mundo é aqui

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Janie e Micah, Micah e Janie. Desde os primeiros anos da escola. Almas gêmeas em segredo. Melhores amigos que passavam as tardes na pedreira da cidadezinha onde cresceram juntos, a mais profunda de Iowa. Até que Janie desaparece, e tudo o que Micah pensava que sabia sobre sua melhor amiga é borrado de dúvida. Até que Micah acorda no hospital, e não se lembra de nada. Mas para montar o quebra-cabeça do desaparecimento de Janie e entender seu apocalipse particular, Micah Carter precisa recuperar suas lembranças, inclusive as mais difíceis, numa jornada devastadora. Adotando uma narrativa não linear, que vai e volta entre Antes e Depois e alterna as vozes dos dois protagonistas-narradores, Amy Zhang, autora do surpreendente Quando tudo faz sentido, conta a história de uma amizade marcada por obsessões e segredos dolorosos. E, mais uma vez, entrega um romance Young Adult original, sincero, comovente e impossível de largar até a última página. (Skoob)
ZHANG, Amy. O fim do mundo é aqui. Rocco Jovens Leitores, 2018. 272 p.

"Se tem um ponto no qual a ciência e a religião estão de acordo, é o fato de que o mundo vai acabar. Talvez o Sol apague ou a ira de Deus destrua tudo ou um lobo gigante devore a Terra, mas o que se mantém é a ideia constante de entropia. Tudo está desmoronando. Tudo está se encaminhando para o fim."

Janie e Micah são amigos, melhores amigos, muito mais do que amigos, porque eles são uma única alma, apenas em um átomo... e ninguém sabe. Ninguém sabia disso. Eles eram amigos apenas em segredos. Apenas quando eram eles. Não na frente dos outros, não na escola. Lá, eles eram Janie e Micah. Separados. Mas, quando eram só eles, longe de todos, eles não estavam separados, eles estavam juntos, eles eram Janie e Micah, Micah e Janie... até que não mais.

Até que Micah acorda no hospital e ninguém quer lhe dizer o que aconteceu com Janie, por que ele está ali, por que... houve um incêndio? Na nova casa de Janie, que ela odeia? Ele não lembra. Ele não lembra de nada, quase nada. Sofrendo de amnésia seletiva retrógrada, não lembrando de memórias passadas escolhidas a dedo, Micah só quer sua amiga e precisa lembrar, mas lembrar é pior do que esquecer.

Esquecer é fácil, é passar uma borracha, é fingir que nunca esteve lá; lembrar, por outro lado, é sofrer novamente. E dói. Dói, dói e Micah quer que pare, ele quer Janie. Mas ela não está lá.


"Esquecer é fácil. Lembrar é mais difícil, mas não tão apocalipticamente dolorido quanto saber que ainda tem mais por vir."

No início da leitura, eu fiquei um pouco irritada (talvez fosse a intenção do livro), porque Janie quer acreditar em contos de fadas e quer que os outros acreditem, mas... ela não acredita realmente. Lá, lá no fundo, ou talvez nem tentando tanto assim, Janie não acredita. E ignora tudo e qualquer coisa que não se encaixa no seu "mundo perfeito", porque não quer lidar com ele. E eu fiquei triste, porque... Deus, ela só queria ser feliz. Um feliz completo, um feliz de conto de fadas, e não existe tal felicidade. Ou talvez ela exista, mas nos pequenos detalhes, nos átomos e não nas supernovas, estando com as pessoas que você ama agora, nesse instante, e não procurando alguma que você possa amar e que vá ser perfeita, porque não existe perfeição. Mas Janie quer perfeição e eu queria bater nela.

E então, piora. Se eu me senti triste (e com raiva) por Janie não ver a realidade, se recusar a enxergá-la, eu não queria sentir mais nada quando ela começa a ver demais, quando o real é tudo que ela vê e que não há pessoas bonitas, não há pessoas decentes, não há almas maravilhosas. Ou então há. Mas ela não é uma delas, não depois do que acontece, e nunca mais será.

"O que se sente quando o mundo explode, no instante em que explode, é puro nada.
A explosão não dói nem um pouco. Não dói até bater no chão.
De novo."

Eu não esperava essa história. Eu li Quando tudo faz sentido da Amy Zhang e esperava algo na mesma linha e... não é bem assim. A primeira diferença é no narrador, que você sabe quem está narrado, o que não acontece em Quando tudo faz sentido, e não é poético como eu esperava (eu amo narrações poéticas, que parecem poesia, embora não goste de poemas/poesias... vai entender), embora tem seus momentos, porque o livro é narrado por Janie (passado, antes) e Micah (presente, depois), e em alguns momentos há partes do diários de Janie, que são lindos, são contos de fadas desconstruídos, feito com desenhos e costurado com pedaços da alma dela.

Em O fim do mundo é aqui, Amy Zhang traz temas fortes para serem debatidos e vai te conquistado aos poucos, te prendendo numa teia que te faz questionar bondade e maldade, saudável e doentio, culpados e vítimas, e desconstrói esses limites até que você não saiba dizer o que é um ou outro, fazendo-o se sentir desconfortável, porque não é "certo", não deveria ser, tem algo de errado, mas é normal. Está na sua vida, de algum modo, de algum jeito, mesmo que você não perceba. O quê? Amizades tóxicas.

"- Mais do que qualquer coisa.
- Mais do que tudo."

Enquanto eu lia, eu... eu não sei, não lembro o que esperava, mas com certeza não isso. Eu fui ler a sinopse agora do Skoob para colocar na resenha e eu realmente não lembrava dela, acho que nem a li antes; acredito que só vi o novo livro de Amy Zhang e pensei "é esse, eu quero". Eu li essa sinopse agora e está bem claro isso, todavia eu demorei para perceber o tema de amizades tóxicas enquanto lia o livro, porque é difícil notar essas fronteiras, sinceramente, embora devesse ser fácil.

Janie e Micah eram amigos, melhores amigos, não tenho dúvida quanto a isso, é uma das primeiras coisas que você nota quando ler, todavia isso não significa que eles eram bons amigos, que eles não podiam serem melhores. Eu realmente odeio (mais para evito) falar palavrões, mas, sim, não há outra palavra para Janie e Micah, Micah e Janie, do que eles estão f******. Tão, tão, tão...

Sobre o título do livro, O fim do mundo é aqui, eu me senti uma idiota quando entendi, porque é claro que o fim do mundo é aqui, onde mais ele seria?

AVISO: esse livro traz alguns gatilhos, como suicídio, assédio, abuso sexual, bullying, uso de álcool e drogas; se você não se sente confortável com tais temas/menções, é recomendado que você não o leia.

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