Livro #205: Outros jeitos de usar a boca

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'outros jeitos de usar a boca' é um livro de poemas sobre a sobrevivência. Sobre a experiência de violência, o abuso, o amor, a perda e a feminilidade. O volume é dividido em quatro partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente. Lida com um tipo diferente de dor. Cura uma mágoa diferente. Outros jeitos de usar a boca transporta o leitor por uma jornada pelos momentos mais amargos da vida e encontra uma maneira de tirar delicadeza deles. Publicado inicialmente de forma independente por Rupi Kaur, poeta, artista plástica e performer canadense nascida na Índia – e que também assina as ilustrações presentes neste volume –, o livro se tornou o maior fenômeno do gênero nos últimos anos nos Estados Unidos, com mais de 1 milhão de exemplares vendidos. (Skoob)
KAUR, Rupi. Outros jeitos de usar a boca. Planeta Brasil, 2017. 208 p.

Esse é o primeiro livro de poesia (ou talvez o termo correto seja poema) que eu li. Antes desse, eu sempre disse e repeti o quanto não gosto (ou talvez odeio) poema, que não queria ver nem pintado de ouro. Deus, eu me arrependo tanto de nunca ter lido nada com isso antes.


"como é tão fácil para você

ser gentil com as pessoas ele perguntou 
leite e mel pingaram 

dos meus lábios quando respondi 
porque as pessoas não foram 
gentis comigo"


Outros jeitos de usar a boca é um título erótico e não completamente infundado. Esse é um livro com teor erótico, mas preferiria ainda mais se tivessem traduzido o título diretamente do inglês e nomeado-o como Leite e Mel (aka Milk and Honey). Dar o título que se deu em português restringiu a história ao sexo e não abrangeu toda a variedades de temas que aborda, como relacionamentos tóxicos que não são exclusivamente românticos, estupros, machismo e sexismo, e renascer, florescer e amar-se.

O livro não aborda apenas temas "pesados" ou ruins. Ele trata de coisas boas. Existem quatros temas fundamentais que divide o livro: amor, dor, ruptura e cura, mostrando que depois da turbulência vem a paz, depois da tristeza está a felicidade; você precisa de um para reconhecer o outro. É cliché, mas é verdade.

"você me diz para ficar quieta porque
minhas opiniões me deixam menos bonita
mas não fui feita com um incidência na barriga
para que pudessem me apagar
não fui feita com leveza na língua
para que fosse fácil de engolir
fui feita pesada
metade lâmina metade seda
difícil de esquecer e não tão fácil
de entender "  

Uma coisa que eu gosto bastante é quando abordam relações tóxicas; e não quero dizer somente relacionamentos românticos, mas em suas todas as formas, inclusive amizades. Nesse livro, você se pergunta quando o amor de torna tóxico, quando o que te fazia bem e te salvava te deixa doente, a partir de que ponto você consegue separá essa linha tênua antes que ela se torne óbvia.

Infelizmente, nem de todo bom se faz um livro. Existe pontos negativos, que eu nem percebi que existia até pensar sobre eles. Eu sempre gosto de pensar em algo negativo nos livros que leio, mesmo que seja uma atividade que resulte em nada. Nesse caso, eu percebi que a história é mais adequada ao público feminino.


É um ótimo livro, reconheço, mas talvez apenas as mulheres deem a importância que ele merece, porque vão se identificar com os problemas apontados, com todo o machismo que roda a sua vida e a direciona para a crença que ela é fraca e submissa e incapaz.

Você não é, mulher.

Nós não somos.

Talvez esse "ponto negativo" não seja tão ruim assim. Como critica, tenho que criticar. Como mulher, adorei. Não tem como um livro atingir a todos. E o livro consegue fazer o se propõe: ser um livro feminista, que te faz refletir sobre o que é ser mulher. E foi o livro que me fez gostar de ler poesia, o que eu dou uma estrela dourada, porque eu era a pessoa que dizia ODEIO poema e agora estou aqui, amando poesia e adicionado vários na minha lista do skoob.

E uma coisa que me fez amar ainda mais esse livro foi as ilustrações de Rupi Kaur. Elas são algo simples, mas lindas; eu adorei-as. Senti até falta quando fui ler outro livro de poesia e não tinha ilustrações, como se o mesmo estivesse nu.

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