Livro #143: Apenas uma garota
Prestes a entrar na vida adulta, Amanda Hardy acabou de mudar de cidade, mas a verdadeira mudança de sua vida vai ser encarar algo muito mais importante: a afirmação de sua identidade. Tudo que ela mais quer é viver como qualquer outra garota. E, embora acredite firmemente que toda mudança traz a promessa de um recomeço, ainda não se sente livre para criar laços afetivos. Até que ela conhece Grant, um garoto diferente de todos os outros. Ela não consegue evitar: aos poucos, vai permitindo que Grant entre em sua vida. Quanto mais eles convivem, mais ela se sente impelida a se abrir e revelar seu passado, mas ao mesmo tempo tem muito medo do que pode acontecer se ele souber toda a verdade. Porque o segredo que Amanda esconde é que ela era um menino. Em seu romance de estreia, Meredith Russo retrata o processo de transição de uma adolescente transexual, parcialmente inspirada em suas próprias experiências. Enquanto traz à tona questões difíceis como dilemas existenciais, preconceito e bullying, o livro também fala de forma esperançosa e leve sobre amizade, descobertas e autoaceitação. (Skoob)
RUSSO, Meredith. Apenas uma garota. Intrínseca, 2017. 240 p.
Amanda não era um menino, nunca foi (vamos deixar isso claro), antes ela tinha um corpo e um nome de menino, mas ela nunca foi de fato um. Desde que se entende, Amanda sabe que que ela não é um garoto, e, quando chega na puberdade, ela tem essa certeza. E tudo o que menos quer é viver num corpo que não é seu, presa, sufocada, assim Amanda decide dar um fim ao seu sofrimento, a sua vida.
Mas ela não chega ao fim.
"(...) algo precisava mudar. Porque eu tinha mudado."
Queria fazer uma resenha bonitinha e linear, entretanto o próprio livro não segue uma linha temporal definida - quase sempre no presente, mas, às vezes, alguns anos antes: antes de Amanda sobreviver a sua tentativa de suicido, antes da sua mãe descobrir qual era o seu real gênero e aceitá-la desse jeito, antes da cirurgia que tornou Amanda a garota que ela é.
Dona de um novo nome oficialmente, Amanda vai morar com o pai numa cidadezinha do interior, onde ninguém a conhece, ninguém sabe que antes ela era Andrew, e tudo o que ela menos quer é se envolver com alguém, mas...
"Talvez ele tivesse razão, mas o que eu merecia e o que podia esperar da vida eram duas coisas bem diferentes."
Ok, todo mundo sabe o que acontece: garota encontra garoto, se apaixona, esconde segredo, tudo vem a tona e... final aberto. O livro terminou com um final aberto, mas transmitiu a mensagem que queria, a história que pretendia. E a história não é sobre Amanda e Grant, é apenas sobre Amanda, apenas sobre uma garota, uma garota trans que precisa se amar, que merece ser amada, e não necessita da aprovação de ninguém.
Amanda é uma garota, apenas uma garota, independente do sexo que nasceu, do gênero que lhe foi designado. Ela é uma garota, apenas isso. Mesmo que muitos não vejam, se recusem a admitir, nada vai mudar isso.
"Concluí que as pessoas que diziam que Deus não me amava, que diziam que não havia lugar na Terra para mim, estavam erradas. Deus queria que eu vivesse, e esse era o único jeito que eu sabia sobreviver, então era essa a vontade Dele. Era essa a minha vontade. Eu escolhera viver e, ao que parecia, enfim estava fazendo isso."
Apenas uma garota não foi o primeiro livro com protagonista trans que eu li (Todos, nenhum, simplesmente humano; e George), mas, diferentes dos outros, esse não falou sobre se aceitar e contar aos outros sobre isso. Sim, tem isso, todavia é diferente.
Amanda sabe quem é, ela nunca teve dúvidas quanto a isso, mas... é algo que só se entende lendo, porque a história é contada de forma tão surpreendente que você sente algo na garganta como se fosse a protagonista, você sente o sofrimento dela para ser aceita como realmente é e como é difícil para as pessoas fazerem isso, entenderem isso: que Amanda é apenas uma garota.
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