Livro #144: Quando tudo faz sentido
Quando tudo faz sentido
Titulo: Quando tudo faz sentidoAutora: Amy Zhang
Editora: Rocco
Páginas: 320
Ano: 2017
Sinopse: Liz Emmerson é uma garota popular no colégio e tem uma vida aparentemente invejável. Por que ela tentaria tirar a própria vida, simulando um acidente de carro depois de assistir a uma aula sobre as Leis de Newton? Neste surpreendente romance de estreia, Amy Zhang, que nasceu na China e mora no estado de Nova York, aborda temas como abandono, bullying, depressão e suicídio com uma narrativa crua e pungente que vai arrebatar os fãs de obras como As vantagens de ser invisível, Nuvens de Ketchup e Meu coração e outros buracos negros, entre outros. Na trama, Liz é resgatada por Liam, um garoto que ela sempre desprezou, mas talvez uma das poucas pessoas ao seu redor capaz de enxergá-la além das aparências.
Liz Emmerson sofre um acidente de carro e é levada para o hospital em estado crítico. Entrando e saindo de várias cirurgias, ninguém acredita que a bela e invencível Liz pode morrer a qualquer instante.
E ninguém sabe que o acidente não foi tão acidental quanto acham, mas uma tentativa de suicídio, todavia, apesar das muitas pessoas ali no hospital, esperando uma resposta, muitos não se importariam, porque Liz era amada e odiada e, para muitos, não faria diferença.
"Ela morreria, e talvez todo mundo esquecesse que ela sequer tinha vivido. (...) E não vou esquecer. Prometo a ela o que ninguém mais pode prometer. Prometo a ela, sempre."
Não existe muita coisa na sinopse do livro, apenas que Liz é popular, tem uma vida invejável (será?) e que decide que vai morrer num "acidente" de carro, mas que nada sai como esperado quando Liam, um garoto que ela despreza, a resgata - e, bem, essa sinopse não chega nem perto de descrever a história.
Qualquer um que leia isso vai pensar (eu pensei), que era uma história romântica, mas não é, esse não é o foco. Sim, Liam é apaixonado por Liz, mas teve um momento que a odiou, todos já tiveram esse momento com Liz Emmerson, mas ele a perdoou.
Ela não.
Liz não era uma pessoa boa, ela fez muitas coisas ruins e sabia disso e queria não fazer, entretanto ela não podia parar. E ela se culpa. E ela não quer mais isso. E ela queria que tudo parasse. Que o mundo parasse. Que ela parasse. Ela decide se parar.
"(...) tentou pensar em um motivo para seguir em frente. Não conseguiu. Porém conseguiu pensar em mil razões para desistir."
Num dia, três semanas antes da morte do seu pai, Liz decide que vai morrer, que vai fazer tudo parecer um acidente, e que vai ser no dia que o seu pai morreu também, porque assim será só um dia triste para sua mãe, porque, se ela não pode ser uma pessoa boa, se não pode mudar, ela também não precisa continuar prejudicando os outros.
Contudo Liz se deu uma semana antes de desistir de vez, para tentar ver se ela não podia mudar mesmo, se ela não podia ser melhor, mas... não conseguiu. Não valia a pena. Ela não valia a pena.
Liz acredita que não.
"Algumas pessoas morriam porque o mundo não as merecia.
Liz Emerson, por outro lado, não merecia o mundo."
Quando você ver uma história sobre bullying, você percebe como a pessoa que é o alvo não é forte, não se acha forte o bastante para fazer isso parar, mas o contrário também acontece. E isso foi o que eu achei interessante e inovador no livro, porque não é sobre quem sofre, é sobre outra vítima, quem pratica também é uma vítima. Liz foi uma vítima. De si mesma. Dos outros. Da vida. E ela não quer mais ser. Ela não quer mais fazer os outros se sentirem mal. Ela quer acabar com tudo e ela decide acabar consigo. Ela decide acabar com a causa para que não haja uma consequência. Ela decide que não merece viver e que precisa fazer algo bom uma única vez na sua vida, e que esse "algo bom" vai ser morrer.
"Fique viva.
Mas ela não quer ficar. Ela não quer ficar.
Tento me lembrar da última vez em que ela foi feliz, de seu último dia bom, e demoro tanto para procurar em meio às outras lembranças, as infelizes, as vazias e as perturbadas, que é fácil entender por que ela fechou os olhos e virou o volante para o lado.Porque Liz Emerson guardava tanta escuridão dentro de si, que fechar os olhos não fazia muita diferença."
O ponto alto da história é a narração, porque você não sabe quem está narrando e você quer descobrir - você quer saber se é alguém real, vivo; ou talvez seja um amigo imaginário; ou talvez um anjo da guarda; ou talvez... talvez seja a Morte, acompanhando Liz até aquele momento, vendo todas as suas escolhas (sim, eu pensei que fosse a morte e... surpresa!).
Mas, em nenhum momento, você vai ler que Liz não teve culpa, porque ela teve. Liz é culpada, mas também é inocente. Somos todos inocentes, somos todos culpados (talvez alguns mais do que outros), mas estamos tentando e não podemos parar de tentar, porque ser uma pessoa boa é uma escolha e não acredite no contrário, e é difícil - se não fosse todos seriam.
E, não importa de qual lado esteja, você precisa pedir ajuda. Você pode pedir ajuda. Sim, você é forte. Sim, você pode lidar com isso. Mas você não está sozinho. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, não vai torná-lo fraco. Mas admitir que não é tão forte quanto todos acreditam, que você mostra que é? Vai fazê-lo forte. Vai ajudá-lo a ter o que se agarrar. Vai tornar claro que você não está sozinho.
"Eu a vi tentar enfrentar seus medos sozinha, orgulhosa demais para pedir ajuda, teimosa demais para admitir que estava com medo, pequena demais para combatê-los, cansada demais para escapar.
Eu observei Liz crescer.Você ainda tem a mim."
A capa é linda e não tenho vergonha de dizer que foi a primeira coisa que me chamou atenção (capa serve para isso). É um carro que sai da pista, que cai, e tem um monte de fórmulas de física, porque foi assim, durante a aula de física, falando sobre as Leis de Newton, que Liz decidiu morrer. E tem uma mão que segura o carro - o narrador onisciente? E a misteriosa frase "não existe acidente"... Por que o acidente não foi um acidente? Porque toda ação gera uma reação e então nada é acidental?
Outra coisa misteriosa é o titulo "quanto tudo faz sentido", além de ser irônico, porque nada nunca faz sentido. Não tem um momento que tudo faz sentido, existem momentos que algumas coisas fazem sentido, mas não tudo. E Liz percebe isso quando gira o volante e está capotando e não morre de imediato, tudo faz sentido... as coisas não são tão simples.
A vida não é tão simples.
"A vida é mais que causa e efeito.
As coisas não eram tão simples assim.Naquele momento, tudo se encaixou.E Liz Emerson fechou os olhos.Pisou no acelerador."
O livro aborda vários temas sérios, como aborto, bulimia, e, é claro, suicídio, de forma crua e direta e ainda sim poética - não tem como não ser por causa do narrador. E o livro é lindo. A história é triste, não me entenda mal, mas o livro é lindo. Eu adorei ele.
Citações do livro.
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