Livro #207: A bruxa não vai para a fogueira neste livro

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Aqueles que consideram “bruxa” um xingamento não poderiam estar mais enganados: bruxas são mulheres capazes de incendiar o mundo ao seu redor. Resgatando essa imagem ancestral da figura feminina naturalmente poderosa, independente e, agora, indestrutível, Amanda Lovelace aprofunda a combinação de contundência e lirismo que arrebatou leitores e marcou sua obra de estreia, "A princesa salva a si mesma neste livro", cujos poemas se dedicavam principalmente a temas como relacionamentos abusivos, crescimento pessoal e autoestima. Agora, em "A bruxa não vai para a fogueira neste livro", ela conclama a união das mulheres contra as mais variadas formas de violência e opressão. Ao lado de Rupi Kaur, de "Outros jeitos de usar a boca" e "O que o sol faz com as flores", Amanda é hoje um dos grandes nomes da nova poesia que surgiu nas redes sociais e, com linguagem direta e temática contemporânea, ganhou as ruas. Seu "A bruxa não vai para a fogueira neste livro" é mais do que uma obra escrita por uma mulher, sobre mulheres e para mulheres: trata-se de uma mensagem de ser humano para ser humano – um tijolo na construção de um mundo mais justo e igualitário. (Skoob)
LOVELACE, Amanda. A bruxa não vai para a fogueira neste livro. Leya, 2018. 208 p.


A bruxa não vai para a fogueira neste livro é mais um livro de poesia, que não pude dizer não. Ele é o segundo da série As mulheres têm uma espécie de magia, de Amanda Lovelace, e foi... Acho que o melhor livro de poesia que li até hoje.

Eu não sei nem por onde começar. Mentira. Eu sei. Vou iniciar pelo que mais me marcou, que foi o deboche que está no livro. Meu Deus. Adoro. Quero mais. O livro fala do reconhecimento da mulher sobre si, sobre sua magia e bruxaria e o fato, o simples fato, de ser mulher. E eu adoro isso. Esse é o livro de poesia feminista que eu estava procurando. Amanda Lovelace e Rupi Kaur? Divas da poesia feminista. Mas Amanda, tsk tsk, que fada bruxa você é, escrevendo essa poesia fantasiosa realista. Esse é o meu tipo de poesia. Eu li o prólogo e já sabia que ia amar. E esse deboche, já falei dele? Acho que posso repetir o meu amor pelo mesmo então.

Preciso respirar um pouco, eu sei. E fazer sentido.

"(...) um a um, eles nos perguntam se sabemos de que crime somos culpadas. depois de uma breve pausa para pensar, falamos: “a única coisa de que somos culpadas é de sermos mulheres.” essa é, ao mesmo tempo, a reposta certa & errada. para os caras dos fósforos, nossa existência é a forma mais negra de magia, normalmente punida com a morte.
eles não sabem o que vem por aí. que fofos.
nós não devemos ter medo deles.
não não não.
eles é que devem ter medo de nós.
– a primeira lição de fogo."

A narrativa da Amanda foi algo me surpreendeu, porque é poesia, mas há um enredo; é realidade e fantasia. Ela não se contentou em ser um, estar numa caixinha. Eu gostei bastante da pequena trama, que antecede as poesias dos 4 temas centrais. Como temas, nós temos Julgamento, Queima, Tempestade de Fogos e As Cinzas. Não posso nem dizer quais desses eu prefiro, porque são todos maravilhosos.

Em Julgamento, Amanda fala sobre como todos te julgam e como você tem que ser forte. Às vezes, ser forte é estar com outras mulheres.  Às vezes, é estar sozinha e colocar a si mesma sobre todos os outros.

Em Queima, é sobre como você é queimada pela opinião dos outros, pelo que um e outro acha certo e correto e bom, e magro e delicado e frágil. Ser mulher, quase sempre, parece ser sinônimo disso. E, se você não é assim, não se encaixa nesse padrão, você é queimada também. Como uma bruxa. Então queime os outros. Você é linda do jeito que é. E ninguém deve dizer como deveria ser sua beleza ou o que fazer com ela ou decidir usá-la pelo seu vão capricho.

Em Tempestade Fogo, é sobre usar o fogo que usam para nos queimar contra eles. Não sou eu dizendo isso, é a história. Tentaram nos prender em uma caixa, num padrão social onde mulher era sinônimo de inferior e empregada, nenhum pouco dona de si mesma - mas não conseguiram. Hoje somos fortes, não apesar disso, mas justamente por causa disso (by Lovelace, 2018).

E, por fim, As Cinzas. Depois do julgamento, da queimada e do fogo consumindo aqueles que o atearam, o que sobra? As cinzas. As cinzas deles. Devemos usar essa história para escrever o futuro, para que o passado não se repita. Então escreva e conte a sua história. E saiba separar o joio do trigo, os que merecem e não merecem sua empatia e amor.

"ser uma
mulher
é estar
pronta para a guerra,
sabendo
que todas as probabilidades
estão
contra você.
– & nunca desistir apesar disso."

Poesia, minha querida. Nunca me imaginei te amando. E te amando tanto, ainda por cima. Quem conhece livros maravilhosos que nem esse? Pode me recomendar, estou aceitando todas as indicações. E terceiro livro de Amanda Lovelace, A voz da sereia volta neste livro, aguarde-me que estou indo.

Livro participante do Desafio Literário Livreando, na categoria "poesia".

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